Sobre o fantasiar
- bruna santos
- 30 de dez. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de abr. de 2024

Faz muito tempo que cientistas e filósofos se debruçam na tentativa de se tornar um observador completamente neutro para analisar algo da realidade. Freud, porém, no esforço de entender suas pacientes, foi um dos pioneiros a identificar a função do fantasiar no nosso psiquismo e como esse fenômeno altera nossa percepção da realidade nua e crua, algo que se tornou central na sua teoria da psicanálise.
Surge então a investigação, a partir da psicanálise, não dos fatos em si, mas de como contamos nossa história e nos relacionamos com o mundo a partir de uma realidade psíquica, esta recheada de fantasias que foram ganhando estrutura desde a primeira infância, boa parte de forma inconsciente.
É dentro de uma análise pessoal que o analisando vai se dando conta de como a sua relação com a vida está fundamentada por idéias fantasiantes próprias, muitas vezes mesmo que o cenário e os personagens mudem, existe sempre um pano de fundo que se repete. Moldamos a realidade através desse filtro fantasístico e através dele nos relacionamos com o mundo real.
Sua função está principalmente ligada a busca de satisfação de um desejo. Para podermos ter essa satisfação garantida precisamos fantasiar, pois não é possível satisfazer nossos desejos completamente na realidade objetiva. Freud chega a chamar a fantasia de uma "correção da realidade insatisfatória". E atribui aos artistas a brilhante capacidade de dar vazão às suas fantasias através da ficção, permitindo um melhor direcionamento delas. Ao contrário de outros adultos, que geralmente censuram ou escondem suas fantasias.
É muito interessante quando entramos num processo de olhar para o nosso mundo interno, para nossos modos de se relacionar e identificamos algumas de nossas fantasias. Ao tomar consciência delas, algumas são deixadas de lado, por vezes permitindo um caminhar mais leve, outras não abrimos mão, mas aprendemos a redirecioná-las, sublimá-las, dar contorno e por fim, algumas que talvez nunca iremos acessar. E vc? Já teve essa experiência de perceber alguma fantasia sua?
ARTE: "Primeira aquarela abstrata", de Wassily Kandinsky.